No Brasil, também é possível encontrar modelos de vida coletiva espontânea, onde a convivência coletiva é o que agrega valor àqueles que compartilham os espaços. Tenho como exemplo, de vivência pessoal, as repúblicas de estudantes que se conhecem,compartilham espaços, e mudam, por muitas vezes, a maneira como estes vivem por grande parte de suas vidas.

O interessante é entender que no Brasil esse conceito extrapola as tendências atuais, e em cidades como Ouro Preto, a presença desse tipo de moradia é um fator histórico, que remete ao início do século XIX e se mantém viva há vários e diferentes períodos históricos. Elas reuniram diversas gerações de estudantes em um modelo de vida coletiva. Machado descreve as raízes e princípios que guiam esses estudantes a criarem vínculos e relações de cumplicidade e responsabilidade coletiva:

"As repúblicas sempre se constituíram como uma família mais verdadeira que a consangüínea. Isto porque cada um escolhe seu “irmão”. Não há o grupo familiar imposto e muitas vezes detestável. E se o escolhido não é o ideal, você o substitui. A comunidade assim formada convive durante anos e anos. E o mais rico nunca leva vantagem. Mas a dignidade de cada um é o que conta para nivelar a vida em comum." - Luiz Otávio Machado

Vivência Pessoal

Desde o ano de 2012, tenho vivido em casas compartilhadas em diversos formatos. A busca por esse modelo de vivência veio à tona quando fui aprovada num universidade em outra cidade, e por isso me mudei da casa dos meus pais para viver com pessoas (até então) desconhecidas. De lá para cá, vivi 11 residências em 3 países e pude ter mais de 26 colegas de casa. A residência, que é o espaço que abriga a intimidade, o conforto, pode ser o mais difícil de se compartilhar, mas que traz os vínculos mais fortes e as conexões mais verdadeiras.

"É comum se ouvir de antigos alunos que quando as repúblicas possuíam cozinha própria e não havia o Restaurante Universitário, a convivência era maior entre os estudantes e a influência republicana na moldagem das personalidades era completa(...)Isto se constitui na mais expressiva experiência de vida que jamais tive. É notável como estas casas, com mais de um século, mantém acima das leis, em perfeito regime anárquico, uma tradição e coerência. Todos mandam e ninguém obedece."

Para os jovens que acabam de sair da casa da família, o espaço da república é o extravasar da liberdade, porém é também onde é expressa a liberdade coletiva, e todos os que ali vivem devem compor um sistema viável que atenda às necessidades coletivas e individuais. Essa experiência é única e traz questionamentos e experimentos sobre democracia, participação social e coletiva, além de novas formas de organização.

A criação de micro-comunidades de compartilhamento de residência surge como uma proposta de solução, que se mostrou eficaz em diversos aspectos e já se popularizou em muitas camadas da sociedade, em diferentes países. Porém, quais serão as novas necessidades das pessoas que vivem dessa maneira, ou que gostariam de testar uma moradia nesse modelo?

Referências:

MACHADO, Otávio Luiz . As repúblicas estudantis da Universidade Federal de Ouro Preto, Brasil. Revista Crítica de Ciências Sociais , v. 66, p. 197-199, 2003.