CARLOS,2007 identifica que a reprodução da vida é definida pela tríade habitante-identidade-lugar. No espaço urbano, esse lugar é tomado pelas relações desenvolvidas entre os seus habitantes, as definições culturais e identitárias e na expressão do corpo sobre o lugar e do lugar sobre o corpo.

O espaço só é percebido pelo homem quando sentido fisicamente, "é a porção do espaço apropriável para a vida — apropriada através do corpo — dos sentidos — dos passos de seus moradores".

Este corpo que habita o espaço, que sente o seu movimento e configuração, é o fundamento da concepção de comunidade. Só com a sobreposição de corpos, tempos e da experiência de compartilhamento, que o indivíduo pertence de alguma maneira no mundo.

"A história do indivíduo é aquela que produziu o espaço e que a ele se imbrica por isso que ela pode ser apropriada. Mas é também uma história contraditória de poder e de lutas, de resistências compostas por pequenas formas de apropriação." - Webster, Glasze and Frantz

A contradição do pertencimento é a de que para pertencer os sujeitos precisam se abrir e compartilhar. Porém, na contramão, percebemos o movimento oposto de se fechar e fortificar seu espaço e seus bens, como se esses fossem a essência da sua identidade, ameaçada por qualquer influência externa.

Esse fenômeno pode ser relacionado a um momento histórico em que vivemos, de mudanças bruscas e constantes. As redes e a informação acessível a todos, traz como contraponto uma incerteza generalizada, que interfere no pensamento moderno de rigidez e busca eterna por estabilidade.

Talvez por isso, mesmo enxergando uma tendência de compartilhamento e democratização do acesso ao conhecimento, informação e serviços, uma outra vertente se opõe a esse processo e cria mais distanciamento, fortificações e a separação entre aquilo que é diferente.

Espaço e tempo são duas dimensões relacionadas e que permitem a nossa existência. Num olhar menos complexo, do espaço e tempo social, ambos são ferramentas apoderadas e apropriadas como modos de propagação da espécie e das hierarquias sociais. Tempo é hoje, moeda. E espaço é capital.

Referências:

CARLOS, Ana Fani Alessandri. O lugar no/do mundo. São Paulo: FFLCH, 2007, 85p. Inclui bibliografia 1. Geografia Urbana 2. Cidade 3. Lugar .

WEBSTER, Chris; GLASZE, Georg; FRANTZ, Klaus. The global spread of gated communities. . Environment and planning b: planning and design, Cidade, v. 29, p. 315-320, jun. 2002. Disponível em: https://doi.org/10.1068/b12926.Acesso em: 05 nov. 2018.>