Na lógica do neoliberalismo, o capital precisa se manter em constante crescimento e expansão para sobreviver. Para se manter vivo, os detentores de capital se apropriam de forças de trabalho e dos meios de produção para criar comódites, que comercializam para explorar os valores excedentes.

O espaço também é introduzido nesse sistema e precisa ser monetizado, valorizado e explorado pelos proprietários como comódites para manter em funcionamento a lógica do capital. Quando o espaço se torna capital, assim como todo produto gerador deste , o foco se torna o crescimento do capital e não na qualidade do serviço e da vida daqueles que estão conectados ao processo.

Segundo Harvey, no momento em que Marx teorizou sobre a expansão do capital, esse ainda era permeado de diversas possibilidades de expansão. O Neoliberalismo poderia ser difundido pela Ásia, Américas e Europa. No momento atual vivemos um contexto onde a maioria dos países já adotaram o capitalismo e o contexto é de uma crise de expansão.

Em um período histórico em que o plano geográfico do planeta já é conhecido e apropriado, a expansão dele como capital se reverte à ideia de reconstrução e reforma dos espaços já habitados como ferramenta de valorização desses espaços já existentes.

"Capital has no interest in building cities for people, it only has an interest in building cities for profit"
- David Harvey

Em cidades guiadas pelo crescimento de capital, o avanço da especulação imobiliária é desenfreado e propõe obras que não valorizam a vivência nos espaços e a qualidade de vida das pessoas. Mega-construções e empreendimentos que servem como investimento a longo prazo são tendências e geram problemas sociais como: políticas de higienização em prol da valorização de perímetros urbanos, falta de pertencimento ao espaço, aumento dos preços de aluguel, imóveis nos centros urbanos e até mesmo desocupação de grandes áreas.

"Urban growth involves the chaotic coevolution of organisations, spatial structures, and institutions and is distinct and path dependent for every city. There are regularities, of course, but regularity of design in the built environment should not obscure more profound underlying differences in the processes that govern urban life and economy." - Webster, Frantz, Glasze

O processo de crescimento e desenvolvimento das cidades com foco no capital e especulação imobiliária, e a relação com o acesso à moradia e espaços nos centros urbanos é chamado de gentrificação. Segundo "um processo de substituição dos habitantes de uma região, por aqueles de uma classe mais abastada, associado a modificações físicas, sociais, culturais e imagéticas."
Neil Smith pensa no fenômeno como "o resultado do desenvolvimento desigual, e que se transforma numa estratégia urbana global, a serviço de um urbanismo neoliberal".

O fenômeno atua diariamente dificultando a possibilidade de acesso às residências em locais mais disputados nas cidades. Os proprietários de imóveis adotam estratégias de hiper-valorização de seus bens e aumento dos preços dos aluguéis. As incorporadoras elevam o preço do metro quadrado com mega-construções que se destinam a investidores e não a famílias e pessoas que ali desejam viver. Como resultado, além dos imóveis, os serviços e comércios também têm que equiparar os seus preços para se manterem vivos e muitas vezes são substituídos pelas grandes redes e propostas "gourmetizadas".

"...a cidade se insere num tipo de gestão compatível com o neoliberalismo – são realizadas intervenções de “requalificação”, a partir de parcerias público-privadas, que promovem o upgrade cultural da região, gerem o espaço como mercadoria a ser valorizada a despeito das dinâmicas sociais ali existentes, fomentando também discursos higienizantes, ações de vigilância policial e a remoção pontual da população menos abastada". - Uchôa

Referências:

SMITH, Neil. The endgame of globalization: Nova York, Estados Unidos: Routledge, 2005. 237 p.

UCHÔA, Fabio Raddi. Espaços e Imagens da Gentrificação no Centro de São Paulo. Revista Novos Olhares - Vol.3 N.2. P. 47, 58. Disponível em:http://www.revistas.usp.br/novosolhares/article/viewFile/90202/92910

WEBSTER, Chris; GLASZE, Georg; FRANTZ, Klaus. The global spread of gated communities. . Environment and planning b: planning and design, Cidade, v. 29, p.111-222, jun. 2006. Disponível em: https://doi.org/10.1068/b12926.Acesso em: 05 nov. 2018.

YOUTUBE. David harvey: direito à cidade e resistências urbanas @ fortaleza (português). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=tj-fcdfnsae. Acesso em: 16 nov. 2018.