Muitos projetos de co-viver nascem a todo o momento. Vivemos uma ascensão do conceito e da comercialização deste serviço através de empresas que são proprietárias e/ou gestoras de espaços destinados a esse fim. Na análise realizada, porém, percebe-se que a capitalização do serviço e acesso monetário a ele não são fundamentos primários do co-viver. O co-viver, como já observado no discurso de diversos especialistas da área, é um ato proposital, ligado aos ideais pessoais de cada indivíduo e à construção de uma micro-comunidade extrapolando núcleos familiares.

Ao participar de uma micro-comunidade colaborativa, os indivíduos não devem estar buscando apenas ou primariamente benefícios como redução de custos e acesso a serviços e espaços. A ideia é que o maior benefício seja o convívio social e a troca de experiências entre aqueles que ali vivem.

O exercício de começar pelo fim

No livro Design Sprint de Jake Knapp, é citada uma cena do filme Apollo 13, na qual diversos astronautas estão presos em uma nave desgovernada que deveria ir à lua, após uma explosão acidental. Mas o foco está na equipe que tem o objetivo de guiar a tripulação em seu retorno seguro à Terra. Diversos problemas interferem nesse retorno seguro, mas a cena emblemática é a do diretor de vôo, Gene Kranz. Ele utiliza um diagrama simples, desenhado à mão em uma lousa de giz, que mostra o percurso da nave ao redor da lua e em direção ao retorno à terra.

O curioso é imaginar uma sala cheia de engenheiros, físicos, matemáticos e cientistas, sendo apresentados um diagrama tão simples que poderia ser compreendido por uma criança. O ponto porém, que a cena demonstra, não é da destreza técnica da operação, mas sim estratégica. Nessa cena, o intuito do personagem era de centralizar todos os esforços da equipe em um só objetivo: trazer a tripulação a salvo de volta para a Terra.

Dessa forma, foi preciso garantir que todos tivessem um objetivo em comum e que os pequenos (e grandes) problemas que fazem parte da missão como um todo, fossem solucionados um a um.

Assim, na missão do Apollo 13, a equipe corrige primeiro a rota da nave para que ela não mude de direção, depois um filtro de ar danificado para que os astronautas respirem e só então vão planejar uma aterrissagem segura.

Definição do objetivo

Utilizando da estrutura de trabalho da IDEO.org, pude compreender um objetivo de atuação e formular a pergunta que definirá o desenvolvimento do projeto. A ideia é criar uma ideia de longo prazo que define o objetivo central e transformá-la em uma pergunta provocadora, assim focando os esforços em um único ponto, de ideação de soluções.
Dentro de uma equipe multidisciplinar, cada um dos participantes colocariam as ideias em post-its e as ideias seriam votadas por todos os participantes. Neste caso, desenvolvi a atividade sozinha.

Qual o objetivo do produto a longo prazo?

• Possibilitar que qualquer residência adote um modelo de residência coletiva;
• Fugir à especulação imobiliária e aos projetos de interesse do capital;
• Divisão igualitária de tarefas;
• Transmitir os princípios do manifesto do co-living para aqueles que ainda não o conhecem;

• Facilitar o processo de vivência coletiva;
• facilitar a comunicação entre os moradores;
• controlar as finanças coletivas;
• dividir as responsabilidades por atividades;
• promover o engajamento social.

Quais problemas podem ser encontrados no caminho?

• Baixo engajamento nas atividades propostas pela comunidade;
• Interface densa de conteúdo extenso;
• Dificuldade de encontrar informações;
• Repetição de avisos sobre pendências.

Necessidades prioritárias:

• Geração do senso de comunidade, bom relacionamento entre os vizinhos;
• Facilitar os processos diários, amenizando conflitos rotineiros;
• Descentralizar a gestão prática das tarefas, custos e burocracias;
• Manter vivos as atividades sociais, comunicação verbal.

Definição da pergunta curiosa:
"Como podemos facilitar a gestão distribuída da casa compartilhada?"

DESIGN KIT. Design kit. Disponível em: http://www.designkit.org/. Acesso em: 12 out. 2018.