São nos espaços de contracultura e apropriação do espaço como moradia possível, onde surgem novas possibilidades de vida e coletividade. As dificuldades encontradas são por parte da gestão pública e da especulação imobiliária, que mantêm espaços de imenso potencial desocupados e deteriorados, sem políticas inclusivas de manutenção da habitação social, digna nos grandes centros urbanos. Porém, os benefícios encontrados podem ter revolucionado a maneira como iremos viver nos próximos anos. Nesse espaço de anarquia e descentralização de poder, as pessoas encontraram companheirismo e novas relações de pertencimento e posse, que mudaram por completo a maneira como enxergamos o lar, a família e o acesso aos bens de serviço.

Na Dinamarca, Bodil Graae escreve um artigo de jornal em 1967, denominado "Cada criança deve ter 100 pais e m˜ães", que questionava a estrutura uni-familiar tradicional. O artigo foi a inspiração para a construção de uma comunidade intencional chamada Sættedammen, em 1972. O termo em dinamarquês bofællesskab descreve esse aspecto de comunidade viva e da vida em comunidade. Assim, é introduzido posteriormente na América do Norte a ideia de co-housing.

Esses termos descrevem a organização de moradias multifamiliares, e agrupamentos de moradias unifamiliares em torno de um espaço comum e atividades coletivas, onde o princípio único que une os habitantes é o desejo de compartilhar e conviver.

Usually, ownership (or rental) contracts set an amount of work expected from each adult member per month (babysitting, preparing a community meal, gardening, conducting maintenance work, and bookkeeping) (Sargisson 2010)

Dentro de comunidades nesse formato, é esperado que cada adulto colabore com um mínimo de horas e atividades em prol do bem-estar comum. Cada comunidade define as próprias regras e não há um modelo único a ser seguido.

"Co-housing is an intentional neighborhood, where people know each other and look after one another" - Grace Kim.

Além das atividades de manutenção e de trabalho no geral, também existe uma preocupação em manter atividades sociais rotineiras, como jantares semanais e um espaço em comum para a convivência.

O manifesto co-living, criado pela Coliving.org, resume os principais fundamentos desse movimento:

- Comunidade em harmonia com a individualidade;
- Aproximação de pessoas e troca de experiências;
- Consumo pensado na colaboração;
- Projeção compartilhada de residências;
- Economia de recursos naturais;
- Divisão de decisões e tarefas;

A origem dos termos está conectada ao período histórico da criação do Sættedammen: uma das primeiras comunidades auto-intitulada como um espaço de co-housing. O espaço foi construído intencionalmente preservando áreas comuns e privadas para as 35 famílias que ali viveriam. Atividades comunitárias como refeições, eventos e tarefas (como limpeza dos ambientes e gestão dos espaços) fomentam a preservação do senso de colaboração e estimulam o relacionamento dos vizinhos.

"Yet what is innovative about cohousing is not the internal layout and external appearance of the home: rather, it is the array of social, institutional, and coordinating practices that together cultivate solidarity and shared endeavour." Jarvis

Apesar de esta ser uma iniciativa privada, não existe regime de seleção de novos moradores, e o processo de entrada é na compra de uma residência ou ao alugar um espaço nas casas, que também são compartilhadas. Mesmo assim, ao viver nesse ambiente as famílias concordam em destinar parte do seu tempo para atividades comuns, que preservam o espírito de colaboração.